Wednesday, January 09, 2013

qualquer um poderia ter feito isso


Recentemente, um amigo disse não entender certas obras das artes Moderna e Contemporânea. Ele referia-se a obras de fácil execução, como, por exemplo, um quadro branco com listras pretas. O argumento foi aquela velha história de que “qualquer um poderia ter feito aquela obra”. Para entender-se por que obras de fácil execução são, sim, obras de arte, é preciso conhecer uma linha de pensamento que iniciou-se no século XX e teve, como o mais ilustre representante, Duchamp. Um grupo de artistas chegou a conclusão que a técnica é inimiga do processo criativo, por interferir no fluxo do criador (o artista) para a obra. Diziam que a obra de arte precisa ser o mais independente possível, e, para isso, não deve trazer os traços pessoais do criador. Assim, começaram a desenhar com réguas e utilizar-se de diversas outras artimanhas que anulassem o aprendizado técnico do artista. O acaso, também, era considerado de grande valor na criação, e era preciso dar espaço para que o acaso pudesse se manifestar. Anos mais tarde, Jackson Pollock revolucionou este conceito, ao criar o action painting, no qual a pintura se libertou, de vez, do domínio da mão do artista.

Com outras palavras, na obra de arte de fácil execução, a ideia e a inspiração predominam. O importante, para o observador, não é pensar se ele, também, poderia ter feito aquela obra. É preciso deixar que aquela obra de fácil execução exerça o papel de transformar as emoções do observador. É interessante perceber que, como eu disse no meu post anterior, a arte se constrói de liberdade e de criatividade. Quando se diz “qualquer um poderia fazer essa obra de arte” está se induzindo a cópia, porque, na verdade, está-se propondo que alguém repita o processo de fácil execução feito pelo artista.

Para quem ainda não concorda com esse pensamento, proponho o exercício inverso. Na prática, qualquer um pode cursar as melhores academias de arte e aperfeiçoar-se nas técnicas mais complexas que existem. É algo como se tornar um engenheiro: a arte de difícil execução requer técnica apurada e nada mais. Ou seja, quando se valoriza um quadro de difícil execução, está-se, valorizando, na realidade, a técnica do artista, e não a emoção que o artista transpôs para aquela obra.