Friday, December 12, 2014

mentira e verdade

Penso que há dois opostos que nos dificultam o dia a dia: um é a mentira, o outro é a verdade.

Friday, November 28, 2014

arte e cachaça

cheguei a conclusão de que a arte é a cachaça dos fracos. a cachaça dos fortes é cachaça mesmo.

Tuesday, October 07, 2014

legalizar o aborto?

discussão polêmica: a defesa do aborto virou um must entre as pessoas supostamente instruídas. em defesa do aborto, pesa o direito de opção da mulher para encerrar uma gravidez e a preocupação com a saúde das mulheres (uma vez que abortos clandestinos causam muitas vítimas). na discussão, oculta-se, porém, uma bandeira importante: o direito à vida das crianças na barriga. evidentemente, as crianças não nascidas não dispõem de mecanismos para garantir a própria vida. deveria o estado abandoná-las à sorte? é preciso lembrar que os abortos, ao contrário de 30 anos atrás, tornam-se cada vez mais rotineiros. se entre as décadas de 1950 a 1990 o aborto fosse tão comum como é hoje, talvez 10% de nós, que estamos aqui discutindo, não teria nascido. é pra se pensar. hoje existem exames genéticos cada vez mais precisos, que adiantam a cor dos olhos, a provável altura e eventuais doenças genéticas da criança que está para nascer. conhecendo a loucura humana, é certo que haverá mães que optarão por fazer um aborto, pelo fato da futura criança ter olhos escuros e um pé torto. o caso da mulher que morreu recentemente em Niterói, após fazer um aborto clandestino, é um bom exemplo: ela tinha três filhos saudáveis e o marido queria ter o quarto filho, mas, mesmo assim, ela interrompeu uma gravidez no quinto mês, pois acreditava que um novo filho iria atrapalhar a vida profissional. quem já viu exames de ultrassom sabe que no quinto mês de gravidez a criança está formada. o estado não deveria proteger essa criança?

Thursday, September 18, 2014

momento Narcisa

após o vídeo hilário de Narcisa Tamborindeguy na ARTRIO, confesso que já tive um momento Narcisa. foi no início da década passada. eu passeava pelo Shopping Cassino Atlântico, quando me deparei com um vernissage na hoje extinta Galeria 21, dos queridos Afonso Costa e Valéria Braga. receberam-me com uma taça de champanhe, e quando dei por mim estava de pileque e admirava obras de arte que eu não fazia ideia de quem eram. a certa hora, deparei-me com uma gravura que imediatamente reconheci ser de Oswaldo Goeldi. perguntei à Valéria Braga pelo preço da gravura. ela, para minha surpresa, puxou um homem na casa dos quarenta pelo braço e disse: “pergunte ao artista.” fiquei perplexo; pelo que eu sabia Goeldi estava morto fazia algumas décadas, mas, pego de surpresa e com champanhe na cabeça, resolvi tirar a história a limpo, virei-me para o artista e perguntei: “você é o Goeldi?” a resposta foi um fulminante olhar de desprezo. sem nada dizer, o artista deu me as costas e abandonou-me com minha dúvida ignorante. mais tarde descobri que se tratava de uma intervenção no trabalho de Goeldi e que o artista que me fora apresentado era o interventor, Nuno Ramos.

o que Narcisa e eu temos em comum nesses dois momentos é que quebramos a rígida norma de como se comportar no meio das artes. cometemos o pecado capital de fazer perguntas tolas num meio que se proclama aristocrático. o curioso é que a arte, como expressão da liberdade, tem como principal objetivo, justamente, a quebra de hierarquias engessadas. muitos se perguntam de que maneira a arte poderá evoluir daqui para frente, uma vez que todas as barreiras criativas já foram superadas. talvez o caminho seja a queda da torre de valetes, e o futuro da arte esteja na simples reconstrução horizontal. talvez também não. mas certo é que episódios como o protagonizado por Narcisa devem nos levar à reflexão; afinal, pode um ambiente com rígidos protocolos promover a livre expressão?

Sunday, July 27, 2014

palavras e fotos

queria poder fotografar as palavras. registrar o instante preciso que uma palavra representa em determinado momento. palavras são camaleões emocionais, nunca, jamais, repetem o mesmo significado. o frio de hoje é diverso do frio de ontem. o amor de João é diferente do amor de Maria. gostaria de fotografar as palavras para poder congelar exatamente o que se quis dizer em certo instante. depois que ditas, ninguém sabe repetir o que significam.

Sunday, July 20, 2014

conflito Israel x Palestina

o assunto mais ingrato para se comentar é o conflito Palestina x Israel. quão maior o esforço de abordar a questão de forma neutra, maior a certeza de que aquele conflito é um espelho de milhares de conflitos em todo mundo. aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, vivemos situação bem parecida; milhares de pobres residem praticamente trancafiados nas favelas e têm como principal apoio organizações humanitárias e organizações criminosas locais. aqui não existe uma fronteira física separando os dois lados, mas a fronteira invisível existe, e o lado de cá não aprecia quando o lado de lá se aventura pelos shoppings e cinemas da área nobre. a invasão militar, como resposta a crimes, também é um método que nós usamos. quando um bandido de uma favela assassina uma mocinha da área nobre, o Bope invade aquela favela e a ação também traz como efeito colateral a morte de alguns civis. nossa sociedade, assim como Israel faz em relação à Palestina, acostumou-se a tolerar a morte de civis nas favelas, quando o pretexto é manter a ordem e reprimir criminosos que lá se escondem. por isso, não me sinto em posição de opinar no conflito Israel x Palestina. creio ser preciso, antes de opinar em conflitos alheios, arrumar a própria casa. desafio qualquer um a comparar o número de civis mortos pela polícia brasileira ao de civis palestinos mortos pelo exército de Israel. a nossa guerra causa mais mortes.

Saturday, July 19, 2014

a estranha moda das doações em festas infantis

a tradição de presentear o aniversariante originou-se nos ritos religiosos: da mesma maneira que se acendia velas nos templos e se fazia oferendas aos deuses, presentear o aniversariante (e acender velas no dia do aniversário) era um gesto de desejar boa sorte e pedir proteção para o ano que se iniciava. aos poucos, a tradição religiosa transformou-se num ato de carinho com o aniversariante. finalmente, virou obrigação – ir num aniversário sem presente é falta de educação. essa obrigação transformou o antigo rito num festival capitalista. hoje, quando vamos num aniversário de criança, é preciso passar antes numa loja de brinquedos. o resultado é, na regra, um monte de presentes de plástico que são deixados de lado pela criança aniversariante após poucos dias.

algumas mães, cientes desse consumo que perdeu o  sentido e ecologicamente incorreto, resolveram mudar o rito: pedem que os convidados façam doações a uma instituição que cuida de crianças carentes. a iniciativa é em si muito nobre, mas distorce tanto a origem do presente como o gesto carinhoso que o presente representa. pelo ponto de vista da origem, deixamos de desejar sorte ao aniversariante; pelo ponto de vista do carinho, ficamos impedidos de dar algo pessoal para o filho dum amigo numa data especial.

sou 100% a favor de filantropia e penso que, num país desigual como o Brasil, temos todos o dever moral de contribuir de alguma forma (seja com dinheiro, com ajuda braçal, com doação de roupas ou até mesmo com aconselhamentos) para ajudar pessoas carentes ou ignorantes, mas penso também que é preciso tomar cuidado, para não distorcer o sentido dos gestos. quem quer fazer filantropia, faz por livre vontade, não porque os pais dum aniversariante pediram. e quem quer dar um presente para o filho dum amigo, tem o direito de dar o presente.

quero deixar claro, porém, que entendo a iniciativa; também sempre me questiono sobre o sentido de meu filho receber um monte de brinquedos impessoais de plástico, mas, por outro lado, é inegável que sempre há um o outro presente pessoal no meio, escolhido com muito carinho. não tenho, portanto uma conclusão definitiva. apenas uma reflexão.

Friday, May 30, 2014

raízes

penso que hoje o grande problema do Brasil é a complexidade emocional que o país demanda dos brasileiros. não é a toa que vivemos uma onde de violência sem precedentes, seja nas manifestações enfurecidas, nos atos exaltados de grevistas, no roubo na esquina ou na banalização de desentendimentos entre vizinhos. o constante bombardeio por injustiças e corrupção, a decadência do sistema político, a inércia operacional do aparato público e a falência de setores primordiais, como educação e saúde, levam os brasileiros a uma exaustão emocional diária, que, não é a toa, transformaram-nos no maior consumidor de Rivotril do mundo.


qual a solução? mudar-se para fora do país não seria, também, uma forma de rivotrilar-se? ficar e estressar-se à exaustão não seria um desgaste desnecessário? creio que, quando tudo parece estar errado, a transformação está em curso. o desequilíbrio do meio é, talvez, a maior escola da alma humana. por isso, chega dessa conversa de sair do Brasil. aqui é o nosso lar. aqui é nossa escola da vida. árvore que cresce durante a tempestade cresce apta a enfrentar qualquer turbulência futura. o segredo é não descuidar das raízes. 

Friday, May 23, 2014

massa humana

quem conseguir por um instante quebrar qualquer vínculo prático ou emocional com o mundo perceberá que, apesar de tantos males, não há nada mais apaixonante que a massa humana. é na absoluta contradição que somos fascinantes. como fagulhas dum imenso fogo, na tentativa de preservar a madeira que as chamas consomem.

Sunday, May 18, 2014

porta para o novo

e de repente surge uma porta. vaga-se por semanas, meses, anos, sem encontrar saída, então, de forma aparentemente inexplicável, surge uma passagem. espia-se pela fechadura, e o novo arranca as entranhas da zona de conforto. o impulso é trancar a porta e apegar-se ao antigo, que, até então, não trazia atrativo algum, mas o antigo se dissolve e deixa somente duas opções: atravessar a porta e viver o novo ou permanecer e dissolver-se também.

Monday, May 12, 2014

tempo de retração (greve de ônibus e de professores)

voltemos, então, aos tempos do homem da caverna; sem ônibus, só nos resta ficar em casa, e, sem professores, às crianças também. da televisão se faça a nova alegoria da caverna, imagens do mundo nas paredes dos lares. existe solução? dentro do sistema, definitivamente não. quando o caos se consolida ao ponto de nos jogar de volta às opções primitivas dos primórdios, só nos resta descartar o universo que julgávamos compreender. é tempo de retração.