Tuesday, March 24, 2015

o polêmico caso de Anglina Jolie

o polêmico caso de Angelina Jolie

Primeiro foram os seios, agora os ovários e as trompas. Numa suposta medida para evitar o câncer, Angelina retira seios e órgãos reprodutivos. Tudo respaldado em moderníssimos exames, que comprovariam que ela tinha 87% de chances de desenvolver câncer.

É curioso que esses exames existem para promover uma cirurgia. Pensem bem: se esse exame existisse para câncer de pulmão, qual seria a solução? Retirar o pulmão? E para o fígado, os ossos, a medula e o cérebro? O que se faria? Não é possível desossar uma pessoa por causa de uma probabilidade de câncer nos ossos. Não é possível retirar cérebro nem fígado. Aliás, se esse exame fosse realizado em homens, para detectar a possibilidade de câncer nos testículos ou na próstata, algum homem retiraria esses órgãos na certeza (ou no risco) de ficar impotente? Acho que mesmo se um exame desse 99% de probabilidade, um homem não retiraria os testículos em função de uma probabilidade. Então, por que a mulher deve retirar os seios e os ovários em função de uma suposta probabilidade?

É fundamental que a indústria da medicina tenha liberdade para pesquisar e para desenvolver metodologias, mas é tão fundamental quanto que se discuta os desdobramentos éticos das metodologias. Desenvolver um exame que induz à retirada de seios e de órgãos reprodutivos das mulheres me parece no mínimo polêmico. O câncer é, até hoje, um dos mistérios da medicina. Existem probabilidades e há estudos que ligam genes a essas probabilidades, mas também há estudos, de importância igual, que ligam o modo de vida ao surgimento de câncer. Quem mora numa cidade poluída, quem fuma, quem se alimenta com fast-food, quem come muito açúcar, quem usa drogas inibidoras do sistema imunológico, quem dorme pouco, quem se estressa no trabalho, quem tem muitos problemas pessoais, quem usa muitos cosméticos, cremes e outros produtos químicos, quem vai pouco ao sol e quem faz pouco exercício físico tem uma probabilidade absurdamente maior de desenvolver câncer que uma pessoa com hábitos considerados saudáveis. Não seria mais interessante usar as pesquisas genéticas nesse sentido? Dizer à mulher: olha, você tem, teoricamente, uma probabilidade maior de contrair câncer, assim, é muito importante que você tenha uma rotina saudável e faça exames de rotina.

O que mais me incomoda nessa questão específica é que se trata duma intervenção violenta, aplicada à mulher e justamente à sexualidade da mulher. Ataca-se a reprodução feminina. Vejo vestígios duma sociedade casta e moralista nesse procedimento, a crença de que a sexualidade feminina leva à degradação. Ninguém corta o saco dum homem por probabilidade de câncer, mas arranca-se os seios da mulher na maior naturalidade. A virilidade do homem é tão importante quanto o pulmão, porque a reprodução feminina não o seria? Conheço mulheres que tiveram câncer e retiraram os seios. A grande maioria está super bem e se livrou 100% do problema. O importante é que fizeram exames preventivos. Agora, antecipar-se ao câncer retirando seios, ovários e trompas, porque a indústria desenvolveu um suposto teste de probabilidade é insano. É um desrespeito à mulher. É dizer que os órgãos reprodutores e os seios são dispensáveis. É reduzir à mulher. É um desenvolvimento covarde da medicina.

observação (25/3/2015): respeito 100% a opção de Angelina. é um direito dela decidir sobre o próprio corpo. preocupa-me apenas que outras mulheres possam ser induzidas, por esses exames e pela divulgação na mídia, a tomar a mesma decisão extrema, quando existem outros caminhos e quando se trata apenas de probabilidade. probabilidade não é fato, e cálculo de probabilidade, quando se trata de doenças e de curas, é um dos campos mais polêmicos que existem na medicina. mas repito: cada mulher faz o que quer.

Sunday, March 15, 2015

manifestações de 15 de Março de 2015

o que não se pode, de maneira alguma, é reprimir as pessoas que hoje foram as ruas para protestar. a manifestação é um direito legítimo, absoluto e intocável numa democracia. negar esse direito, ao afirmar que os manifestantes incentivam um golpe, é viver a realidade do golpe, que se caracteriza, justamente, pela proibição da livre manifestação.