Tuesday, November 24, 2015

noite de lua cheia

de repente sobressalta-me a vontade de escrever algo positivo. é tanta queixa de todos os lados que temo pela existência do universo. hoje é véspera de lua cheia. dá pra acreditar que há uma lua girando sobre o mundo? certa vez, no Pantanal, eu dirigia sozinho por estradas de terra, por campos e por areais, quando me perdi. tentei, a todo custo, encontrar o caminho de volta para a fazenda que me hospedava, mas apenas me perdia mais e mais. então encontrei um lago escondidinho, envolto pela mata densa, tomado por todas as aves possíveis e imagináveis, de todas as cores e de diversos tamanhos. observei aquele berço de absoluta beleza por alguns segundos e parti, com receio de que minha simples presença pudesse violá-lo. há uma senhora abandonada num asilo qualquer e para ela o milagre do universo se resumiria em ter companhia na hora da novela. no calçadão de Copacabana, a garota de programa encerra o expediente e joga conversa fora com o garçom do quiosque. ele lhe serve uma água de coco por conta da casa, ela sorri e retoma a fé na humanidade. trago um poema de Carlos Drummond de Andrade desde sempre no meu peito, como se fosse do próprio ar que respiro. confesso que nunca lhe desvendei o significado. a beleza tem dessas coisas; ao contrário das tragédias que nos atropelam com a insignificante transitoriedade de tudo que julgamos importante, a verdadeira beleza não traz qualquer impacto prático no cotidiano. é apenas um moleque descalço de sorriso branco. certa vez, também no Pantanal, eu encontrei a onça-pintada na beira do rio. a moça humilde está feliz, pois foi bem tratada no posto de saúde. duas meninas dividem um bombom e batem par ou impar para ver quem fica com a parte maior. e amanhã é noite de lua cheia. 

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