Sunday, December 06, 2015

a menina que roubava livros

estive pensando no romance “A menina que roubava livros”. com tanta corrupção, a história de uma menina que rouba livros faz pensar. algum brasileiro consideraria a menina uma ladra? dificilmente. mas ela roubava, roubava livros.

roubar um livro é um movimento oposto à tudo que se vive no Brasil: no Brasil, o conhecimento não tem valor. um livro representa o conhecimento, e roubar algo sem valor carrega um ar de romântica inocência.

escolas sucateadas, pesquisas sem verba, universidades desmoronando e professores com salários humilhantes são alguns dos indicadores de como o Brasil trata o conhecimento. na verdade não o trata, mas o destrata de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

o que isso tem a ver com o impeachment da Dilma? nada. também não tem a ver com a figura de Cunha, com o lamaçal da Samarco ou com a operação Lava Jato. uma menina que rouba um livro cai num terreno indefinido, longe da fúria que nos divide, nem preto nem branco, nem Deus nem o diabo. é impossível condená-la, e não se pode absolvê-la. é dessa neutralidade que transluz o imensurável valor do conhecimento: ele é de todos, por isso, não pode ser roubado.

o conhecimento é o elemento objetivo que mais se aproxima do amor. assim como o amor, o conhecimento dobra quando dividido. assim como o amor, o conhecimento traz bem-estar por onde passa. assim como o amor, o conhecimento (e agora parafraseio Gandhi) cura, nutre, une, entusiasma, faz nascer, alivia, materializa, motiva... possibilita a vida.

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