Sunday, May 15, 2016

a polêmica em torno da extinção do MinC

em meio ao alvoroço em torno da extinção do MinC, surge a importante pergunta sobre qual foi o rumo da cultura, no Brasil, na última década. afinal, o MinC foi tão perfeito assim? vejo dois extremos na dinâmica cultural brasileira: de um lado, os projetos e os eventos executados a partir de leis de incentivo fiscal; do outro, a decadência do patrimônio cultural, como o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e a Escola de Artes do Parque Lage. mesmo pertencendo o Parque Lage à administração estadual, não seria mais importante destinar verba pública federal à manutenção do espaço, ao invés de direcioná-la, através de leis de incentivo fiscal, a shows de cantores consagrados?

não existe, no Brasil, um projeto cultural; a manutenção do patrimônio histórico é esporádica. em todo Brasil, há construções coloniais caindo aos pedaços, e uma igreja precisa de sorte e de muitos pedidos de “por favor” para ser reformada. não se percebe uma agenda cultural. o MinC se tornou um grande carimbador de projetos de captação.

há cerca de dois anos, uma renomeada artista brasileira teve grande exposição cancelada no MAM. o motivo: embora ela constasse na agenda oficial das exposições, ela não conseguiu captar um patrocinador para a exposição. que política cultural é essa em que o espaço público obriga o artista a conseguir o patrocinador que, por sua vez, patrocinará a exposição com verba pública? não seria mais interessante o Governo recolher os impostos e direcioná-los ao Museu, para que o Museu tivesse total independência para montar exposições?

no Brasil, o repasse de verbas para importantes espaços culturais é abaixo do necessário. os museus federais, na maioria, sequer têm verba para a manutenção do prédio e do acervo permanente. assim, curadores, artistas e produtores culturais se estapeiam pelas verbas do incentivo fiscal, para a realização de exposições e de eventos. a disputa é grande, e quem vive das artes tem uma difícil rotina financeira. quando defendem o MinC, não o defendem por admiração. o defendem, pois temem que, sem o MinC, o cenário já difícil possa se tornar insustentável.

a discussão apropriada, no momento, não seria em torno da manutenção do MinC, mas em torno da reavaliação de toda a política cultural brasileira. é inconcebível que a Escola de Artes do Parque Lage e o Museu Nacional sofram com falta de verba, enquanto medalhões da música brasileira recebem verba pública para realização de shows. é imoral que igrejas coloniais caiam aos pedaços, enquanto livros e mais livros de importância cultural questionável são financiados através de leis de incentivo fiscal. por falar em livros, a Biblioteca Nacional é outra que vive a rotina da falta de verba. de que adianta um país fomentar novos livros, se esse mesmo país não disponibiliza verba para preservá-los na história? a gestão da cultura brasileira é um grande contrassenso.

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