Thursday, July 28, 2016

viver no agora

Por que há tanto desrespeito pelos idosos? Porque ninguém mais respeita o passado. Por que há tanta violência contra crianças? Porque se perdeu o encanto pelo futuro. O ser humano está preso num imediatismo doente, em que só o agora importa. A humanidade caiu numa armadilha. Fomos bombardeados com dizeres de filosofias orientais que pregam o viver no agora, sem entender que por trás dessas filosofias existem culturas e tradições milenares, incompatíveis com a nossa interpretação do agora. O nosso agora não é o mesmo agora do sábio da montanha. O nosso agora é somente um descompromisso leviano e nada a mais.

Tuesday, July 19, 2016

dor preciosa

calada, abraçou os joelhos e escondeu o rosto entre as pernas. que dor era aquela que lhe roubava o apetite e oprimia a respiração? sentia-se fraca incapaz; o estudo era uma missão impossível. lá longe, sabia, as amigas conversavam animadas. talvez estivessem no cinema? sentia-se tão distante de tudo, como se estivesse num outro universo, num lugar em que as cores se pintam de dentro pra fora. tudo era descolorido e, ao mesmo tempo, intenso. chorou lágrimas que não molhavam. talvez estivesse doente e apenas precisava dum médico. existiria um remédio contra o que sentia? difícil, concluiu. o único remédio contra a paixão é esquecer a pessoa que se ama. e isso ela se recusaria a fazer. por mais dolorosa que fosse a paixão, era a coisa mais preciosa que possuía.

Monday, July 04, 2016

recomeço

O vento arenoso arranhava a espinha. Maresia trazia o sabor da liberdade. A gravata já não sufocava esquecida ninguém sabe onde. O terno cinza, a camiseta branca, meias e sapatos, até mesmo a cueca, jaziam nas areias de Copacabana. Alguns curiosos estranhavam de longe o jovem empresário despido; associaram a nudez a algum distúrbio mental, loucos é que não faltavam no bairro. Uma senhora, indignada, pediu ao policial que tomasse providências, mas esse espiou o ponteiro do relógio indicando o fim do plantão e desconversou. O importado conversível, largado pelo empresário na beira da calçada, deslumbrava o segurança do pedaço: era o resumo de milhares de sonhos. Uma criança desentendida apontou para homem nu à beira-mar, a mãe fez-se de boba e partiu. A criança sentia e não entendia, enquanto a mãe entendia sem querer sentir.

            O jovem empresário estava livre disso tudo, desse mundo estranho. Há poucos minutos era a maior fortuna da cidade, mas, agora, decidido, não tinha mais pertences e por isso mesmo percebeu-se rico como nunca antes. Queria virar golfinho, queria não, o seria. Saturado duma vida ausente de sentidos, jogar-se-ia nas águas de Copacabana para ser golfinho. Loucura? Não. Louco é o prisioneiro de si mesmo. E foi ser feliz, e foi ser golfinho.

amor adolescente

Existe história mais linda de que um amor adolescente? Aquele frio na barriga na espera pelo toque do telefone; a magia de uma simples conversa no pátio escolar; a expectativa do primeiro beijo; o impulso de se trancar no quarto e ouvir aquela música que não sai da cabeça. O amor adulto constrói um futuro a dois; já o amor adolescente é infinito, é eterno, é imenso, é atemporal... enfim, é a magia da existência.