Tuesday, January 24, 2017

o cercadinho verde-enferrujado

No limite da cidade havia um parquinho para as crianças. Era um cercadinho verde-enferrujado, que ocupava o centro de um terreno baldio de terra batida. Dentro do cercadinho, o escorrega, o balanço e o trepa-trepa. Um grupo de crianças se alternava nos brinquedos, enquanto os adultos responsáveis se ocupavam com smartphones. Tempo nublado. Uma das crianças andou às grades do cercadinho para observar uma poça de água que se formara durante a última chuva, no terreno baldio. A poça parecia tão mais divertida que o parquinho. Percebeu a porta do cercadinho destrancada e os adultos distraídos. Escapuliu. Tirou os sapatos e pisou no iniciozinho da poça. Sentiu a lama se espremer por entre os dedos dos pés. Riu alto. Curiosas, uma por uma as demais crianças fugiram do cercadinho e foram se lambuzar na poça d’água, sem que os adultos notassem. Brincaram por divertidos minutos até que retornaram despercebidos. Mais tarde, ao chegar em suas respectivas casas, os adultos notaram, com estranhamento, que os pés das crianças estavam sujos de lama. Não notaram, porém, que as crianças sorriam como nunca antes. Não perceberam o brilho da aventura nos olhos dos pequeninos. Deixaram de ver a magia, apenas a lama nos pés. Um dos adultos pensou que o parquinho deveria ser reformado com urgência, talvez precisasse de grama sintética. Outro decidiu comprar sapatos melhores, para manter os pés de seu filho limpos. Outro ainda pensou em perguntar ao filho como foi que sujara os pés, mas havia cinco novas notificações no smartphone, e esqueceu o assunto.